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Porque falar de trabalho?

  • Foto do escritor: Matheus Araujo Fonseca
    Matheus Araujo Fonseca
  • 2 de dez. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de jun. de 2024

Além de ser uma atividade que nos toma 8h ou às vezes até mais da metade de um dia, o trabalho também traz consigo uma questão sobre a nossa identidade. Falar de trabalho, então, é falar sobre o sentido que você dá para todas essas horas que você dedica boa parte de sua vida.


O mundo hoje demanda por produtividade no trabalho, isto é, exige que você aproveite ao máximo essas 8h ou mais de modo que traga a maior qualidade possível com o menor uso de tempo. Muitas vezes, isso significa sobrepor a vida profissional à vida pessoal, resultando em um desequilíbrio que pode levar ao estresse no trabalho, nas suas relações pessoais e, em casos mais intensos, levar ao burnout.


Neste artigo, falaremos sobre as origens de uma relação não-saudável com o trabalho, os sintomas mais comuns e cuidados que podemos oferecer a partir da terapia com foco na fenomenologia-existencial.


Produtividade

Nossa sociedade estabeleceu uma norma cultural em relação ao trabalho que é pautada na noção de produtividade. Essa ideia se origina com a política econômica chamada de desenvolvimentismo, que se propagou após a grande recessão econômica de 1929, com a quebra da bolsa de valores de Nova York, e se concretizou após a Segunda Guerra Mundial, quando muitos países precisaram lidar com a crise política e econômica.


Para o dia a dia dos trabalhadores, a noção de produtividade como um incentivo ao crescimento econômico do país ajudou a criar a noção de meritocracia: quem se esforçar e trabalhar, terá sucesso. A consequência desse discurso conseguimos ver na educação, sempre orientada para o mercado de trabalho, e no mercado, com a constante insistência em crescimento e inovação, a despeito dos altos níveis de estresse e ansiedade relatados por trabalhadores de diversos setores - para não citar casos de exploração e burnout.


O trabalho, então, se torna um eixo central em praticamente toda nossa existência. Não se trata somente de um meio para garantir acesso a itens básicos para sobrevivência, ou para a socialização e responsabilização pelo espaço em que se vive. Na ótica da produtividade, o trabalho é um meio de se conseguir mais desenvolvimento e, então, chegar à soberania de um país rico e "desenvolvido".


Desenvolvimento a que custo?

Este discurso arraigado em nossa formação nos faz carregar uma carga emocional pesada a cada momento que vivemos que não se está contribuindo para um trabalho mais produtivo. Sentimentos de exaustão, desmotivação e frustração são comuns, uma vez que a justificativa de "trabalhe mais e terá sucesso" pode nem sempre se concretizar, pois não depende somente da motivação individual, mas sim de condições estruturais da empresa e da sociedade.


No desenvolvimentismo, uma das frentes econômicas era a industrialização. No meio fabril, quanto mais horas de trabalho, maiores são seus resultados financeiros e, por consequência, o desenvolvimento. Embora este discurso tenha feito sentido na época, a crescente terceirização do trabalho industrial fez a maior parte das demais empresas focarem em trabalhos de "colarinho branco", onde as horas trabalhadas não necessariamente traziam o mesmo resultado financeiro, mas onde o discurso foi substituído pela inovação (intra)empreendedora e pela paixão pelo trabalho.


Isso transformou o ambiente de trabalho, seja fabril ou de "colarinho branco", em uma fonte constante de tensão emocional: além de trabalhar exaustivamente, é esperado que você inove e ame seu trabalho. Esta transformação do discurso também diminuiu a linha que separava a vida pessoal da profissional, o que trouxe duas consequências importantes:

  1. Fez com que o lazer fosse cada vez mais deixado de lado, usando este tempo livre para melhorar alguma habilidade necessária para o trabalho, ou monetizando hobbies, ou, em alguns casos, fazendo mais trabalho com bicos e freelas;

  2. E fez com que sua identidade fosse exclusivamente definida pelo trabalho, não deixando espaço para que existisse algo autêntico seu para além do que você trabalha.

Esse estado de tensão constante começa a aparecer em sinais no próprio corpo: sono constante, fraqueza, baixa imunidade por longos períodos. A diminuição do desempenho no trabalho, a falta de engajamento, a sobrecarga de responsabilidades, a sensação de nunca ser capaz de "desligar" e a preocupação constante com o futuro profissional são sinais desse desequilíbrio entre vida pessoal e profissional e que, em alguns casos, podem levar à síndrome de burnout.


O que fazer?

Compreender o significado subjacente desse desequilíbrio é essencial para lidar com o burnout e o estresse no trabalho. Reconhecer demandas que parecem desproporcionais e que causam sofrimento é um primeiro passo para, então, reavaliar prioridades em relação ao trabalho, espaços de lazer e relações sociais, estabelecendo limites saudáveis que promovam o bem-estar mesmo no trabalho.


Pare por alguns minutos e pense: qual foi a sua última atividade de lazer que não teve nenhum benefício de produtividade para o trabalho? Como foi fazer algo apenas pelo prazer de fazer, sem nenhum resultado para sua carreira?


Se você não conseguiu lembrar de uma situação ou se lembrou, mas a situação em si não foi tão prazerosa por conta dessa pressão com a carreira, pergunte-se: que felicidades que essa carreira me promete que eu já posso ter hoje? Há quanto tempo estou seguindo essa promessa e o que já deixei de lado por ela?


A terapia é um tempo em que você pode se dedicar a essa reflexão, com acolhimento e sem uma pressão de produtividade. A partir da abordagem da fenomenologia-existencial, buscaremos entender como essas normas sociais fundamentam suas relações com o trabalho e outras esferas da sua vida. Esse entendimento guiará uma reflexão sobre qual caminho é o mais autêntico para você, ou seja, quais prioridades fazem mais sentido para você e que te trarão maior harmonia e serenidade.



Estou aqui para te apoiar nesse entendimento e nessa reflexão.

É só me enviar uma mensagem no telefone que está logo abaixo :)

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